segunda-feira, janeiro 23, 2006

O herdeiro de D. Sebastião

Há uns 400 e tal anos atrás, Portugal estava no auge da sua jactância colonial! Dominávamos o comércio mundial, de todo o lado chegava riqueza e os pénis lusitanos exibiam uma erecção majestosa e nunca antes vista em toda a história do país.

O dinheiro chovia, os passarinhos cantavam nas árvores e a vida era fácil e simples. Mesmo para o povo português, iria ser necessário muita imaginação, dedicação e empenho para estragar esta situação privilegiada. Felizmente, em Portugal nunca se temeram as dificuldades e rapidamente se arranjou uma forma criativa de mudar a situação: aproveitando a morte do rei, D. Sebastião, um soberbo exemplo do que a reprodução consanguínea sucessiva pode fazer a um cérebro menos preparado, subiu ao poder com 3 anos e assumiu a governação mal atingiu a maioridade, ou seja, mais ou menos na mesma altura em que conseguiu pronunciar as primeiras palavras.

Já se sabe que a inteligência e sagacidade não abundam entre o pessoal com bisavós a menos e este D. Sebastião não era particularmente inteligente, ou sagaz... pronto, era estúpido!

O seu programa de governo, no entanto, tinha a inigualável beleza e arrojo das coisas simples e imediatamente seduziu o povo. E era de facto bastante simples: sendo um cristão fervoroso, educado por jesuítas, D. Sebastião ansiava por espalhar a sua fé e tinha Marrocos mesmo aqui ao lado, ainda por cima convenientemente atestado até acima de infiéis, ansiosos por receber doses maciças de fé no meio dos cornos islâmicos. Era, portanto, uma oportunidade irrecusável que o intrépido reizito não recusou: reuniu um exército de majestosos e erectos lusitanos e, com o alto patrocínio do povo simples (sempre muito dado a financiar este tipo de empresas condenadas ao fracasso) partiu para África onde, nas planícies escaldantes de Alcácer-Quibir, levou um ensaio de porrada épico e desapareceu para nunca mais ser visto.

A coroa ficou sem sucessão à altura e, algum tempo mais tarde, Portugal foi submetido pela coroa espanhola. Imediatamente, os salários triplicaram, o IVA baixou, a gasolina ficou mais barata do que a água, os estádios passaram a encher a cada jogo e os homossexuais desataram a casar, como se esta onda liberal fosse sol de pouca dura e fosse acabar daí a, mais ou menos, 60 anos. Os portugueses perceberam então a genialidade do plano real e os seus pénis, um pouco curvados e murchos pela batalha de Alcácer-Quibir, recuperaram alguma da alegria perdida.

Naturalmente, D. Sebastião passou a ser conhecido como "O Desejado" e o seu regresso, numa manhã de nevoeiro montado num cavalo branco para, quem sabe, conduzir o povo a nova sessão de enfardamento em África seguida de anexação por parte de um país ainda mais rico (a Alemanha, por exemplo) passou a fazer parte da mitologia popular.

Precisamente 400 e tal anos depois nasce em Boliqueime - terra que, por uma coincidência digna de se escrever um livro cujo título comece por "O Código" sobre o assunto, é só o povoado mais próximo de Alcácer-Quibir que existe (considerando a distância no sentido não geométrico e não geográfico do termo) - um menino, que desde muito cedo demonstra ser o único e incontestado herdeiro de D. Sebastião, da mesma forma que o menino Santana é o único e incontestado herdeiro de Sá Carneiro.

Embora este Messias algarvio - Aníbal de seu nome - não ande montado num cavalo branco (nem a gentil Maria, o "Mari" da vivenda "Mariani", mereceria um insulto desses), possui características intelectuais únicas, que permitem atestar a sua condição de reencarnação do lendário rei: não gosta de ler, não vai ao cinema, não ouve música... e é globalmente estúpido que nem um jesuíta, apesar de, ao que consta, ter todos os bisavós.

Assim sendo, cativa imediatamente o povo simples e apresenta-se a eleições com um programa ainda mais simples, que se pode resumir, sem perda de informação, com a frase "eu sou o maior". É imediatamente eleito primeiro-ministro, uma vez que lhe é reconhecido o carisma incomparável d'O Desejado.

Impossibilitado de ir para Marrocos espalhar a fé que não tem, Aníbal demonstra a mesma visão estratégica que o D. Sebastião e entretém-se, durante 10 anos, a desbaratar alegremente o dinheiro enviado pela União Europeia como auxílio ao desenvolvimento, construindo auto-estradas e subsidiando generosas falências, num período de 10 anos onde abundaram as gloriosas e prolongadas erecções (principalmente no sector empresarial).

Infelizmente, Aníbal falhou a segunda parte do plano Sebastianista e não desapareceu numa betoneira de cimento durante a construção de uma autoestrada mal planeada, deixando o país sem sucessão. Consequentemente, Portugal não foi anexado a Espanha e os salários não triplicaram, o IVA não baixou, a gasolina não passou a estar mais baixa do que a água, os estádios não encheram e os homossexuais continuaram solteiros, solitários e tristes.

A crise, o deficit e a Manuela Ferreira Leite deram cabo das erecções (principalmente esta última) e os pénis lusitanos passaram a arrastar-se, como balões vazios, desprovidos de ânimo e orgulho.

O povo português, no entanto, não esquece e, aproveitando o processo eleitoral, ei-lo, 10 anos depois, no mais alto tacho da nação. A inteligência continua ausente e o programa eleitoral continua digno de um membro da família real.

Agora, caro Aníbal, é favor deixares-te de merdas e toca a cumprir o teu dever e a fazer de nós espanhóis, que a gasolina está cara cumó caraças e o meu pénis tem saudades da sua glória passada!

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Porque é que o Cavaco não deve ser presidente I

Local: Palácio de Buckingham.
Contexto: Jantar de homenagem ao presidente do mais antigo aliado da coroa, em visita oficial no Reino Unido.

Já bem jantados e enquanto apreciam a sobremesa, Sua Majestade a Rainha Isabel II procura entabular conversa cortês com o intrigante convidado, que depois de passar o jantar praticamente calado, parece apreciar particularmente a sobremesa preparada em sua honra, de acordo com as regras protocolares habituais:

- Tell me Hannibal, how do you like our feeble attempt to copy your exquisite buoulo rái?

Manchete do The Sun, no dia seguinte: Operação bem sucedida: 76345 migalhas e 5 frutas cristalizadas foram retiradas cirurgicamente de toda a zona facial. Sua Majestade pode recuperar a visão, mas o olfacto está definitivamente perdido.

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Aleluia!

Há uma luzinha ao fundo do túnel: o D. Sebastião renascido, o tal que voltou do além para salvar Portugal da desgraça, caiu 5% em dois dias nas sondagens!

Como diria o meu grande amigo Fernando Pessoa: a vantagem entusiasma, o grunfo abre a boca, a esperança renasce!

O povo simples é sereno mas, ao que parece, pagou-lhe a campanha mas foi para ele ficar calado. Se fala, leva ripada!

Agora oremos para que o professor Inchado Silva não se acagace e não decida fechar o sorvedouro de bolo-rei de vez, até às eleições. Se continuar desbocado há razões para sorrir, mesmo que por enquanto ainda seja timidamente...