terça-feira, novembro 07, 2006

A insensibilidade democrática

Um dos grandes defeitos da democracia moderna é a sua frieza e falta de sensibilidade, no que a assuntos do coração diz respeito, particularmente em resultado de processos eleitorais. De facto, e por mais estapafúrdio que possa ser, os eleitores às vezes parece que não pensam nos sentimentos das pessoas antes de largarem o voto na urna! Insensíveis! E ao longo da história democrática, não faltam os exemplos de corações despedaçados e vidas completamente destruídas, em resultado desta falta de sensibilidade.

E as consequências são, normalmente, muito pouco simpáticas!

A mais recente vítima de uma destas tragédias da vida real é, talvez, a pessoa que menos merecia neste planeta: o gentil, sensível e frágil Luís Delgado, que é de todos nós.

A recente derrota esmagadora do intelectual desconstrucionista do Texas e seus líricos republicanos neo-cónes, às mãos dos outros, destroçou o seu coraçãozinho frágil como porcelana, que, para piorar, se encontrava ainda a cicatrizar das feridas causadas pela derrota copiosa de Pedro Santana Lopes, o Bonito, nas últimas eleições legislativas.

Não há mesmo justiça neste mundo! É nestas alturas que se põe tudo em causa, até a própria existência d'Ele, lá em cima, a velar por nós! Qual o objectivo deste sofrimento, Deus? Para quê fazer sofrer quem não merece, desta maneira? É um teste? Estás a testar-nos? Estás a testar-me? Não compreendo, nem sei se quero compreender...

Quem leia, com olhos de ver, a sua ternurenta e ingénua crónica semanal no DN, não pode deixar de sentir a amargura, a tristeza e o desapontamento escondidos por trás de cada cada palavra, cada vírgula, ou cada ponto final, escritos pela mãozinha trémula de Luís Delgado. Quase se conseguem ver as lágrimas choradas a manchar o site do DN. É a marca inequívoca de um coração reduzido a cacos por um desgosto de amor. Como é possível uma pessoa, com um coração a bater-lhe no peito, não se comover com isto?

E ele, de facto, não o merecia!

Para começar, porque quase é um observador atento e um analista arguto, principalmente quando não analisa nem observa. E quando analisa e observa, se é verdade que as suas análises têm a clarividência de uma toupeira cega e a inteligência de um bloco de granito particularmente estúpido, não é menos verdade que é por pouco! Já por várias vezes - duas - esteve perto de não acertar uma análise política completamente ao lado e até, nalgumas ocasiões, posso garantir que já vi sair da sua boca outra coisa que não um disparate pegado e pejado de racismo, machismo, homofobia e xenofobia revoltante (normalmente sucede a seguir a ter consumido bebidas gaseificadas em quantidade).

Mas, por mais grunfo que possa ser - e Luís Delgado atribui um novo e anteriormente impensável significado à palavra - é de certeza também um grande pinga amor, frágil e sensível, que dá o seu coração e se entrega totalmente a quem tenha para com ele uma palavra de carinho! Foi assim com Durão Barroso, depois com Santana Lopes, o Bonito, e agora com a obra intelectual de George W. Bush e o seu surrealismo maniqueísta!

E quando se entrega, o pequeno Luís, o neo-nazi mais fofinho deste lado do atlântico, é fiel e leal até ao fim! Quem não se lembra das suas elegias delirantes ao desempenho de Santana Lopes, o Bonito, nos últimos dias da tragicomédia, antes do presidente adormecido ter sido acordado em sobressalto e forçado a convocar eleições?

E quem não se lembra dele, ainda há poucos meses, a manifestar a sua convicção absoluta - e solitária: nem o próprio George W. a partilha - de que ainda vão ser encontradas armas de destruição massiva no Iraque?

Quem não esboçou já um sorriso terno e compreensivo, como o de um pai divertido com a asneira inocente e ingénua de um filho pequeno com problemas de aprendizagem, perante as suas atoardas imbecis e xenófobas, em relação à situação no médio-oriente?

Porque a verdade é só uma: Luís Delgado pode não ter noção do ridículo, pode ter o discernimento de uma coisa qualquer sem descernimento, pode ter um perfil igual ao focinho de um doberman e ser incompreensível a razão pela qual lhe é permitido andar na rua sem açaime, mas uma coisa lhes garanto, não há lambe-rabos de direita, mais fiel e leal que este!

E a razão é simples: o que o move é o amor!

Se Luís Delgado tem algum defeito, esse defeito é o mesmo que tem afligido tantas mulheres por esse mundo fora, ao longo de incontáveis séculos: não saber escolher os seus homens e depois dedicar-se a eles cega e empenhadamente!