sexta-feira, maio 04, 2007

CML: crónica de uma morte anunciada

"Imbecil" é um insulto ternurento e aplica-se a alguém que é parvo na essência, mas ingénuo e, às vezes, até bem intencionado. Fazem falta mais imbecis em Portugal, em cargos de responsabilidade! Há bem pouco tempo, tínhamos um dos maiores imbecis de sempre à frente do país e foram momentos de grande felicidade! Propostas anedóticas, metáforas hilariantes, actos governativos a roçar o surrealismo... foram, de facto, bons tempos!

Infelizmente o governo caiu, houve eleições e agora somos governados por um autómato frio, metódico, calculista e infalível! Todos os actos públicos são pensados e planeados ao mínimo detalhe e as próprias medidas anunciadas têm um carácter sério, sisudo e pouco divertido. O governo funciona como um relógio suíço e não há lugar a falhas. Há imbecis na oposição, mas não é a mesma coisa!

Felizmente, há um legado de imbecilidade na Câmara Municipal de Lisboa que, nos últimos dias, nos deu a todos boas razões para voltar a sorrir!

E a sua origem é simples e começa mais a norte. Depois de ter triunfado nas autárquicas e ter ganhado a câmara da Figueira, o menino-guerreiro que, como todos sabemos, é o único verdadeiro herdeiro do grande Sá Carneiro, dedicou-se a arruiná-la financeiramente com todas as suas energias, deixando como grande legado para as gerações futuras o afamado mundialito de futebol de praia, que nos tem mantido entretidos naquelas tardes quentes de verão, em que exagerámos no almoço e não podemos ir imediatamente para a água. O PSD, como partido responsável, reformador e conservador que é, resolveu recompensar este excelente desempenho autárquico, com a candidatura à câmara da capital, que lhe fugia já há muito tempo.

Com o seu carisma, a sua extraordinária beleza e o seu, não menos extraordinário, cabelo, o menino-guerreiro levou a cabo uma campanha triunfal com o lema "Vou esbanjar todo o dinheiro da câmara em obras de fachada e campanhas de marketing pessoal", suficiente para convencer os lisboetas e o Pedro Granger, que chorou de alegria, na noite da vitória!

Inspirado pela dimensão do desafio à sua frente, pois governar Lisboa é um desafio, o nosso herói conseguiu arruinar a autarquia em metade do tempo que tinha demorado a arruinar a Figueira! Campanhas de marketing permanentes ("Estamos a tapar um buraco nesta via", "Estamos a recolher o seu lixo", "Estamos a ir à câmara quase todos os dias", "Lavamos sempre as mãos a seguir a ir à casa de banho", etc) e alguns elefantes brancos com custos astronómicos - cujo expoente máximo é o famoso escorrega subterrâneo do marquês - justificaram esta duplicação da produtividade!

A seguir, pirou-se para o governo, para nos entreter a todos e não só aos lisboetas, até porque sem dinheiro é difícil fazer campanhas de marketing e elefantes brancos como deve ser, e deixou no seu lugar o número dois, o actual ex-presidente da câmara de Lisboa, o inenarrável Carmona, cujo cabelo é quase tão extraordinário como o seu! Com a queda em desgraça da saudosa e belicosa criança e consequente ascensão ao poder do robótico não-engenheiro, naquela noite de má memória para todos os portugueses e para o Pedro Granger, que chorou de tristeza, o inenarrável Carmona conseguiu segurar-se no poleiro de Lisboa, graças à desastrada escolha de candidato feita pelos socialistas. De facto, para uma cidade como Lisboa... para qualquer cidade europeia moderna, até um sismo de grau 9 na escala de Richter é preferível ao trio Manuel Maria, Bárbara e Dinis Maria! E Carmona é parvo, mas não é nenhum sismo, pelo que a escolha dos lisboetas foi sábia e acertada!

E assim chegámos a ontem, quando o imbecil foi constituído arguido e passou a tarde na cavaqueira com os inspectores da PJ. À noite ficámos a saber que não se demitia, porque "o capitão não deve ser o primeiro a abandonar o navio e é sempre giro desautorizar publicamente o Marques Mendes".

Mais, aproveitou a oportunidade proporcionada pelo tempo de antena nos telejornais a que qualquer figura pública sob suspeita de corrupção tem direito, para fazer campanha eleitoral e manifestar o seu espanto por toda a gente querer que ele saia, só porque a Câmara Municipal de Lisboa está na bancarrota e vários dos seus mais altos responsáveis, incluindo ele próprio - o presidente - foram constituídos arguidos num caso de corrupção. De facto, não se compreende!

Hoje, à hora a que escrevo estas palavras, já os vereadores do PSD se demitiram - perdendo uma excelente oportunidade de se juntarem ao exército de altas figuras do partido que já desautorizaram o Marques Mendes - e provocaram a queda do executivo camarário! A discussão agora é se as eleições devem ser convocadas só para a presidência, ou se a assembleia municipal também deve ser submetida a novo escrutínio.

Marques Mendes já disse que o PSD, como partido desapegado do poder que é, prefere não convocar eleições para a assembleia municipal, mantendo-se assim em funções o actual executivo... do PSD. Paula Teixeira da Cruz já disse que, com o sentido de responsabilidade que sempre teve, o melhor é manter-se em funções, evitando assim o risco de nas eleições ser eleito alguém muito pior para o seu cargo, como por exemplo o trio Manuel Maria, Bárbara e Dinis Maria! Por seu lado, António Capucho, sempre bem humorado, não perdeu a oportunidade de desautorizar Marques Mendes e considerou evidente que as eleições devem ter lugar para os dois órgãos.

Ninguém sabe do Pedro Granger, mas deve estar a chorar... de perplexidade!