quinta-feira, janeiro 25, 2007

Eu voto não!

No próximo dia 11 de Fevereiro eu voto não à liberalização total do aborto!
Acredito que uma decisão se deve tomar após ponderação cuidadosa e reflexão profunda. As razões do meu "não" veemente encontram-se, por isso, enunciadas abaixo.

A razão moral

Sou um defensor absoluto e intransigente da vida e acredito que ela começa no instante infinitesimal da concepção. Para mim, a vida é um valor absoluto, que não pode ser posto em causa em nenhuma circunstância. No momento seguinte à fecundação do óvulo, o bebé passa a ser uma criatura abençoada por Deus com o dom da vida, já com a alma completamente formada - é a ciência que o demonstra - e com tanto direito a crescer e a desenvolver-se, como a sua mãe, ou qualquer um de nós! Este é um princípio fundamental, incontornável e inegociável em qualquer circunstância e sem nenhuma excepção! Assim sendo, um aborto - e aqui incluo aqueles abortos efectuados com as chamadas "pílulas do dia seguinte" - é um infanticídio e não só deve ser crime, como deveria ser punível com a pena de morte ou, pelo menos, prisão perpétua, porque não há nada mais repugnante do que matar um bebé (excepto, talvez, cheirar o hálito do Alberto João Jardim vestido de príncipe dos zulus, num qualquer Carnaval madeirense)! Para além disso, um acto sexual em que se usa um método contraceptivo qualquer, como por exemplo um preservativo, ou um feitiço contraceptivo africano, é uma conspiração contra a vida e deveria haver uma moldura penal severa para o punir! E o próprio sexo oral, que toda a gente tem esquecido neste debate, também deveria merecer uma pena, porque um bico pode ser uma forma de canibalismo (pelo menos em potência)!

Ia-me esquecendo: os casos de gravidez resultante de violação, ou com malformações do feto, não contam e, por isso, pode-se abortar nesses casos, porque aí já não há vida, mas sim apenas uma amálgama de células sem sistema nervoso central, nem cérebro ou sensações.

A razão imoral
A prática do sexo por parte de uma mulher é um acto imoral e é por isso que acarreta consigo uma penitência: a gravidez! Se é um facto que para o homem, o sexo é salutar e encorajado por Ele - não é por acaso que é um "Ele" e não uma "Ela" - com a mulher passa-se exactamente o contrário e uma gravidez não é mais do que um castigo que Deus lança sobre a fornicadora, para a punir pelo seu pecado. É esta a razão porque o homem não engravida e o nascimento de um bebé é um processo extremamente doloroso para a mulher, mas completamente inócuo para o homem.

O aborto, tal como todas as práticas contraceptivas, ou até a própria epidural, constituem, por isso, desafios directos à autoridade de Deus e não podem ser aceites ou tolerados em nenhuma sociedade civilizada, sob pena de sofrermos todos o castigo divino! E nós sabemos bem que a mostarda Lhe sobe rapidamente ao nariz e como isso normalmente não são boas notícias para nós! Quem defende a despenalização do aborto, as epidurais, ou os métodos contraceptivos, deverá ter bem presente o que aconteceu a Sodoma e Gomorra quando decidiram desafiar a Sua vontade! Quando os exércitos de anjos vingadores estiverem a arrasar as nossas cidades, ou as pragas bíblicas ceifarem vidas atrás de vidas, não se queixem, nem digam que não foram avisados...

A razão logística
Eu não quero que o aborto se torne mais um meio contraceptivo! E, se deixarmos a decisão de fazer um aborto ou não exclusivamente nas mãos das mulheres, que, como todos sabemos, são - pese embora toda a sua beleza e utilidade doméstica - criaturas imprevisíveis, irresponsáveis, pouco ágeis de pensamento e parvinhas por natureza, o mais certo é que haja uma massificação dos abortos contraceptivos, em detrimento de métodos menos incómodos e também menos eficazes de contracepção, como por exemplo, o preservativo, a pílula, ou o feitiço contraceptivo africano. De facto, estudos científicos demonstram que o aborto é eficaz na prevenção da gravidez, em 99.999999999999999% dos casos (a excepção foi a tentativa frustrada de aborto, em 1942 de uma tal Lara Lor-Van, mulher de Jor-El e mãe de Kal-El, mais tarde famoso sob o nome artístico de Super-Homem, que terá saído a voar do seu útero, a meio do procedimento), enquanto a eficácia da pílula ronda os 98% e o preservativo se fica por uns bem mais modestos 95%. Sobre o feitiço contraceptivo africano não há dados estatísticos publicados, embora o professor Karamba me garanta que "às vezes resulta".

Com a liberalização do aborto aprovada, porque haveria uma mulher, mesmo com as limitações intelectuais que todos lhes reconhecemos, arriscar usar uma pílula, ou obrigar o parceiro a usar preservativo, com todos os incómodos que isso causa, quando pode fazer posteriormente um aborto, com todo o conforto que só um hospital público pode proporcionar, aproveitando para se baldar ao trabalho e, quem sabe, talvez até conhecer um médico giro? É evidente que, passando esta liberalização, nenhuma mulher vai sequer pensar duas vezes!

A razão legal
A lei portuguesa actualmente em vigor é igualzinha à espanhola em todos os pormenores, sem diferença absolutamente nenhuma, a não ser o pequeno detalhe de, em Espanha a interrupção voluntária da gravidez ser completamente legal e até produto de exportação, inclusivamente, para Portugal. Ora se a lei em Espanha, que é um país muito mais avançado, funciona tão bem e é igualzinha à nossa - exceptuando a tal minudência legal - porque é que haveríamos de estar a ter trabalho e chatice com alterações parvas? Não faz o mínimo sentido e é um desperdício dos recursos do país! Sigamos o exemplo dos países mais avançados e deixemos estar tudo como está... quase como em Espanha!

O contexto internacional
É um facto absoluto e provado cientificamente que a questão da legalização do aborto é uma medida da civilização e da força moral de um país! Portugal tem, neste referendo, uma oportunidade única de gritar ao resto do mundo, de peito aberto "nós estamos na liderança da civilização, com os nossos princípios sólidos de respeito absoluto pela vida e pelo aborto clandestino, e na boa companhia de outras civilizações emergentes e moralmente avançadas, como a Somália, o Arábia Saudita, ou até o Irão"! Chega de andar a reboque das potências moralmente decadentes do ocidente, como Inglaterras, Suécias, Alemanhas, Franças e afins! Unamos a nossa voz à pureza de princípios que só o fundamentalismo religioso, ou um estado falhado e governado por senhores da guerra, nos pode oferecer!

A razão demográfica xenófoba, também conhecido como "argumento Cátia Guerreiro"
Se o "Sim" ganhar no referendo, haverá um aumento brutal dos abortos - porque, como é sabido, até agora e com a lei actual, praticamente não se fazem - a ponto de pôr em causa a própria renovação da população portuguesa! Isto conduzirá, são os cientistas que nos dizem, no curto/médio prazo, a um desaparecimento total da população portuguesa e sua completa substituição por emigrantes brasileiros, ucranianos e chineses! Portugal deixará de ser o belíssimo país que é hoje, cheio de sol, praia e fados, para passar a ser um pesadelo de esplanadas, estaleiros de construção civil e lojas e restaurantes de baixo custo e qualidade, mas sem fados, praias, ou sol. Se queremos garantir a sobrevivência do nosso país, da nossa língua e da nossa cultura, não podemos votar outra coisa que não um sonoro e rotundo "NÃO"!

A razão jurídica
Uma das melhores e mais avançadas características da lei actual é o facto de não se cumprir! O aborto é proibido, a lei prevê pena de prisão para as mulheres que o pratiquem, mas podemos orgulhosamente dizer que nenhuma mulher está na cadeia por ter interrompido voluntariamente a gravidez clandestinamente e em condições precárias! Esta modernidade jurídica, que aliás se aplica a muitas outras leis do nosso código civil e penal (a lei da corrupção desportiva, vem-me imediatamente à memória, por exemplo), em que o principal papel do texto legal é mais enunciar uma posição de princípio da sociedade em relação a um determinado assunto, do que propriamente legislar à séria, com aplicação de penas e isso, é o maior garante legal da bondade do estado de coisas actual!

Para quê, por isso, substituir esta lei por uma que tenhamos mesmo de cumprir, com todas as chatices e gastos adicionais que isso vai trazer? Não é melhor deixar tudo como está? Eu prefiro uma lei que me proíbe uma coisa, mas me dá toda a liberdade, enquanto cidadão, de não a cumprir, do que uma que legaliza a mesma coisa, mas me retira a liberdade de a violar! É uma questão de princípio e, por princípio, eu sou pela liberdade de não cumprir as leis do meu país!

É por todos estes motivos - morais, imorais, logísticos, legais, demográficos e jurídicos - que eu voto "Não" no referendo do próximo dia 11!

E tu?

Etiquetas: , ,